Intervenção da Presidente da ASF no seminário" O papel da regulação num contexto de Transformação Digital"
Boa tarde a todos.
É com muito gosto que os recebemos na ASF, sejam muito bem-vindos e ao Seminário “O papel da regulação/supervisão num contexto de Transformação Digital”
Dirijo um cumprimento especial ao Dr. Paulo Bracons, Diretor do Programa “Inovação e Transformação em Seguros” e ao Prof. Nuno Moreira da Cruz, Dean de Executive Education da Católica-Lisbon.
E, também, um cumprimento aos alunos do Programa que sendo profissionais do setor segurador nos colocam um desafio superior, atentas as suas experiências e qualificações.
Gostaria de felicitar a Católica Lisbon School of Business & Economics pelo lançamento do Programa “Inovação e Transformação em Seguros”.
Diria que foi, e é, uma boa inovação.
Desde o início que a ASF considerou interessante este Programa, tendo presente que a transformação digital no setor segurador é hoje uma realidade com impactos profundos nos modelos de operação e modelos de negócio das empresas de seguros e nos riscos que geram, exigindo molduras adequadas de governance e renovadas molduras regulatórias e de supervisão.
O Programa “Inovação e Transformação em Seguros” é, portanto, muito oportuno para fornecer aos alunos que o frequentam uma compreensão deste novo contexto em que o setor segurador se movimenta à luz dos desafios competitivos que enfrenta, decorrentes da inovação e da transformação.
Voltarei este assunto um pouco mais à frente.
É fundamental, neste contexto de inovação e transformação dos seguros, que os gestores e responsáveis nas mais diversas áreas dos operadores do setor segurador tenham bem presente, assim como as entidades que participam no ecossistema dos seguros, o papel da regulação e da supervisão.
E é com esta visão que a ASF se associou a este Programa, oferecendo aos seus alunos a visão regulatória e de supervisão associada aos desafios da transformação digital.
E partilho com todos que esta associação da ASF a esta iniciativa radica, também, no facto de a mesma ser promovida por uma escola de prestígio que nos dá garantias da qualidade do ensino que ministra.
A ASF tem vindo a estreitar a sua ligação com a Academia, através de projetos em diversos domínios e suportados em parcerias de geometria variável, em que simultaneamente damos e recebemos, em domínios como a investigação, a construção de ferramentas analíticas, a formação e a capacitação, para citar alguns exemplos.
A ASF valorizou a sua participação neste Programa com a perspetiva de construir uma ligação duradoura com a Católica Lisbon School of Business & Economics.
É, pois, neste quadro que estamos aqui hoje reunidos.
A transformação digital está a mudar a forma como os operadores e clientes se relacionam: seja na contratação de seguros, seja na gestão dos sinistros ou na captação e aplicação da poupança.
Tudo está a mudar rapidamente, impactando todas as etapas da cadeia de valor da atividade seguradora.
Partilho alguns pontos que irão merecer hoje a nossa atenção:
- O relacionamento comercial - é fundamental que as empresas de seguros sejam capazes de assegurar maior transparência, mais qualidade no serviço pós-venda, maior redução da conflitualidade e que partilhem com o consumidor as economias obtidas com soluções alicerçadas na inovação, enquanto investem em acessibilidade, diversidade e experiência com o cliente.
- Privacidade de dados pessoais – merece atenção o ponto dos riscos adicionais e diferentes dos tradicionais que decorrem de uma potencial acumulação de dados confidenciais e de uma eventual falta de transparência na sua manipulação, da dificuldade de identificação de quem os processa e da possibilidade da sua utilização para efeitos de cruzamento com outro tipo de dados sem autorização.
- Riscos cibernéticos – constituem atualmente uma das principais fontes de riscos operacionais a que as empresas estão expostas, com potenciais impactos a nível financeiro e reputacional, e que se têm vindo a adensar com a aceleração do processo de digitalização e maior dependência de soluções remotas digitais nas operações diárias e na relação entre as empresas e os consumidores.
- Inteligência artificial – estamos a verificar uma utilização crescente da inteligência artificial em diversas áreas que integram a cadeia de valor da atividade seguradora, geradora de novos riscos, sendo que o Regulamento europeu de IA constitui uma moldura regulatória da maior importância a ser observada pelas empresas de seguros.
Neste contexto de significativas inovações tecnológicas e rápida transformação digital, os supervisores financeiros têm de estar muito atentos à forma como a atividade dos operadores do setor segurador e o funcionamento dos mercados financeiros evoluem e se alteram.
Alterações estas ditadas pelo aparecimento de novos processos, novos produtos, novos serviços, novos intervenientes e mercados cada vez mais interligados, gerando importantes desafios que exigem necessariamente novas respostas ao nível da regulação e da supervisão.
Os supervisores devem também usar a inovação tecnológica e a transformação digital na supervisão financeira, criando ferramentas mais eficientes que agilizem os processos, por exemplo de reporte, e de supervisão e monitorização, por exemplo de extração e manipulação de dados, permitindo uma resposta mais rápida e eficaz perante este novo ambiente, em que os dados se tornaram um ativo crítico.
Neste sentido, a ASF adotou um Programa de Transformação Digital, o qual vai vigorar no triénio 2024-2026, para se continuar a equipar em termos de tecnologia e da sua governação, em competências e capacitação digital tendo em conta os desafios que acima referi.
É um instrumento estratégico muito relevante.
Neste Seminário, iremos tratar de quatro grandes temas: 1) Modelos de Negócio Digitais, 2) Proteção do Consumidor em Contexto de Digitalização, 3) Suptech e Inteligência Artificial e 4) Resiliência Operacional Digital, num formato que considerámos mais interessante e que vai ser moderado pelo Dr. Diogo Alarcão, administrador da ASF.
Quero deixar a ressalva de que a duração prevista para este Seminário – uma hora e quinze minutos – não esgota, de forma alguma, o seu conteúdo, permitindo apenas aflorar aqueles temas, mas com a virtude de sensibilizar os alunos e convidá-los a aprofundar o papel da regulação e supervisão.
Finalmente, quero agradecer aos Colaboradores que farão a apresentação dos temas – Dra. Paula Alves, Dr. Eduardo Pereira, Dr. Nuno Alpalhão e Dra. Ana Byrne – e ao Dr. Hugo Borginho, Diretor do Departamento de Análise de Riscos e Solvência, que estruturou o Seminário.
Vamos, então, prosseguir com a intervenção do Dr. Paulo Bracons.